terça-feira, 1 de setembro de 2009

Divisor de águas.

Acho justo e de bom tom (e meu tom é tão bom) parar-me por alguns minutos pra registrar meus olhares desses últimos dias.

A mudança, a transformação sempre vem acompanhada de um pouco de medo, ansiedade, excitação, esperança. Não necessariamente nessa ordem, não há ordem, é uma verdadeira anarquia no peito, às vezes aparecem fortes, misturadas, às vezes nem aparecem, às vezes é só às vezes, nunca o tempo todo.
Na maioria dos casos (viva as várias excessões) esse carnaval de sensações, essa montanha-russa de humores, vem acompanhado de dor.
Ah. Ah. É mesmo chato sentir dor. E existem dores daquelas de dentro da alma, que se fosse permitido escolher, preferiríamos o dedão decepado, que aquele buraco negro e violento no peito. Ninguém gosta de sofrer, de chorar, de perder. Ninguém. Nem os mais bobos-tolos em meio de nós, raposas matreiras.
Porque sofrer, desgasta. Causa confusão mental. Durante o sofrimento vendamos os olhos, a boca, sentamos num canto e abraçamos a sombra. Direcionamos tudo isso sozinhos, sabemos mais da arte de nos boicotar, do que da de nos promover.
Na verdade toda transformação seguida de dor, ensina. É uma lição que a vida cospe na cara de quem não quer aprender nada a respeito.
Mas ensina o que, pra quem? "- Aí vareia, camará" Aprendi a dar ouvidos a clichês, afinal são verdades cruas, por isso são clichês. E o que o clichê diria disso: - Cada um aprende o que precisa aprender. Sim, sr Clichê, é verdade mesmo. Cada qual com seus problemas, soluções, dúvidas e temores.
Até que tudo passa. As mãos não tremem mais, seus olhos desincham, sua respiração aquieta, não há mais peso em seu ombro e quando menos espera sua boca sorri. E o sorriso surpreende porque há muito não sorri. Sorrir é o momento relax da boca, que tanto fala coisas.

Abri os olhos e percebi que eles não estavam mais vendados, não havia mais amarras nos meus pulsos, nem mordaças na minha boca. Levantei. Senti o peso dos dias de inércia tremerem minhas pernas, que tentavam sustentar meu corpo numa coragem comovente.
Um passo, dois. Meus braços mexiam em movimentos compassados e endurecidos. Não havia dor. Havia êxtase. Quando a luz apareceu, meus olhos se fecharam assustados e curiosos voltaram a se abrir. E foi que eu vi belos olhos a sorrir pra mim. Eu sorri de volta e comecei a levitar, porque havia desacostumado a ser leve.

2 comentários:

Ju Marques disse...

"sabemos mais da arte de nos boicotar, do que da de nos promover..." (será que até isso faz parte?!)


Poxa vida!!!!! (a exclamação define a sensação)

Post lindo. Extasiante te imaginar assim. E daqui, de tão leve, levitei tbm, e quase quase te alcancei aí...

Jerusa disse...

Amei esse seu post... me identifiquei demais com ele e refleti sobre minha atual situação tb... Concordo plenamente com vc... Ninguém gosta de sofrer, pq sofrer desgasta, cansa, consome toda a energia do indivíduo... Mas incrivelmente, nos final, nos torna mais fortes....
Grande beijo e sucesso nessa nova etapa da sua vida...